A lenda da corda vermelha

Você acredita que pessoas estão ligadas pelo destino? Uma antiga lenda de Okinawa, trazida da China no século XV, diz que sim – duas pessoas destinadas a se casar eram ligadas por uma corda vermelha, invisível, amarrada a seus pés desde o nascimento.

Certo dia, um rapaz, filho de um oficial do longíquo vilarejo de Kunigami, partiu para a capital Shuri para estudar e subir na vida. Naquela época, a única forma de chegar lá era caminhando, o que levaria cerca de cinco ou seis dias.

Após alguns dias avançando para o sul, o sol se pôs mais uma  vez. “Já está tarde e vou dormir embaixo daquela árvore”, ele decidiu. Ao se aproximar, viu um ancião de cabelos brancos, que estava tecendo uma corda. De repente, ele lhe perguntou:

– Meu rapaz, para onde você está indo?

– Vou para Shuri estudar e passar no exame para Ichibanko e assim deixar meus pais orgulhosos.

O rapaz observava o ancião, estranhando o fato dele estar tecendo num lugar como aquele.

– Para que o senhor vai usar essa corda?

Sem desviar o olhar de seu trabalho por nem um segundo, ele respondeu:

– Esse é o laço que une homens e mulheres nesse mundo.

– Então, como dizem, é verdade que as pessoas já nascem ligadas a outra? – perguntou interessado.

– Sim. Eu já sei a mulher que se tornará sua esposa, inclusive.

– É verdade? O senhor realmente sabe?

– Sim, eu sei. Veja, ali vem uma moça carregando lenha. Ela será sua esposa.

A moça tinha a pele escura e o cabelo vermelho. O rapaz não a achou bonita, e ficou desapontado:

– Ah, é com ela com quem vou me casar? Se for ela, melhor ficar sem esposa.

Então, de repente, teve um ímpeto de raiva e correu na direção da moça, apunhalando-a pelas costas com sua espada. E fugiu, sem olhar para trás.

O rapaz finalmente chegou em Shuri. Estudou arduamente e após alguns anos conseguiu passar no exame para um cargo público.  Ele resolveu voltar para Kunigami para dar as boas notícias a seus pais.

No caminho, ao anoitecer, ele se deparou com uma grande casa.

– Estou a caminho de minha casa em Kunigami e estou procurando abrigo. Poderia dormir aqui por uma noite?

– De onde você veio? – perguntou o dono da casa.

– Até agora estava estudando em Shuri. Passei no exame para Ichibankou e estou voltando para Kunigami para encontrar meus pais.

Como era muito raro encontrar alguém que houvesse passado no exame, o dono da casa autorizou. Ainda, com toda a hospitalidade, ofereceu um farto jantar. A jovem filha serviu o jantar. Ela era tão bela que o coração do rapaz bateu mais forte.

– Esta é a minha filha, que está na idade de casar. Se você estiver interessado, ficarei muito feliz se você se casar com ela.

– Se eu puder me casar com ela, eu é que serei muito feliz – respondeu o rapaz sem hesitação, apesar da surpresa com a súbita proposta.

Então, os dois se casaram e estavam vivendo felizes juntos, quando um dia, a esposa estava agachada, cuidando do jardim. Observando a esposa, o rapaz viu uma cicatriz perto do seu pescoço.

– O que é essa cicatriz no seu pescoço? Aconteceu alguma coisa?

– Perdi meus pais muito cedo, e sozinha, eu vendia lenha para sobreviver. Alguns anos atrás, estava andando na floresta e alguém me apunhalou sem motivo. Ferida, consegui chegar na frente dessa casa e perdi a consciência. Essa família me ajudou e me criou como filha deles.

O rapaz, ouvindo a triste história, lembrou-se do dia que apunhalou a mulher do seu destino e do estranho encontro com o ancião. “O ancião estava certo. Homens e mulheres que estão destinados a se casar estão ligados desde o nascimento. Porém, eu nunca seria capaz de dizer que eu que a apunhalei. Vou tentar compensar meu erro tratando e fazendo da minha esposa a mulher mais feliz do mundo”. E assim, o marido fez de tudo para agradar aquela mulher a quem estava casado há pouco tempo mas a quem estava destinado desde o início de sua vida.

Cópia de DSCF1822

Fonte: 「Folktales of Okinawa – 沖縄の民話」 遠藤庄治 りゅうぎん国際化振興財団


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Comentários

4 respostas para “A lenda da corda vermelha”.

  1. Avatar de Vitor Gabriel Gonçalves dos Santos
    Vitor Gabriel Gonçalves dos Santos

    caralho, o cara deu uma facada nela kkkkkk, brincadeiras à parte, amei a história.

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  2. Avatar de Daniel Augusto
    Daniel Augusto

    Não sabia que musubi era algo tão profundo assim muito obrigado

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    1. Avatar de manuela ferreira
      manuela ferreira

      Tudo se conecta, como um fio complexo e detalhado

      Curtido por 1 pessoa

  3. Avatar de emilly vitoria
    emilly vitoria

    que maneiro

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