Boletim Ikusa-yuu 03 – A batalha na região norte

Mapa indicando a região norte da ilha de Okinawa e a ilha de Ie-jima

A batalha na região norte da ilha de Okinawa

No norte da ilha, a presença do exército japonês era menor (se comparada ao resto da ilha) e a área foi designada para receber civis evacuados de outras regiões.

Desde 1944, com o início da construção de fortificações, muitas pessoas foram recrutadas para trabalhar no corte de madeira. Em Higashi-son, coreanos trazidos à força também trabalharam no corte de madeira, além do transporte para a área costeira, executando trabalhos pesados e com refeições escassas.

A evacuação de civis para o norte começou em 1944, com o Bombardeio de 10 de outubro, e se instaurou de fato em fevereiro de 1945, quando a guerra já se aproximava. Até março, foram evacuadas cerca de 30 mil pessoas. O objetivo, mais do que salvar vidas, era esvaziar as áreas de combate e garantir que não faltassem alimentos para os soldados.

A região norte, conhecida como Yanbaru, caracterizada por suas densas florestas, era a menos populosa. O exército montou operações de guerrilha móvel em algumas montanhas, como Onna-dake (em Onna), Ishikawa-dake (em Uruma), Kushi-dake e Tano-dake (em Nago). Já a Marinha se instalou nos portos de Unten (Nakijin), Kin e Yaka (Kin).

O exército estadunidense, que havia desembarcado em Yomitan dia 1º de abril, se dividiu e o grupo que foi para o norte alcançou o extremo da ilha, Cabo Hedo, logo no dia 13 de abril. Em comparação com a Batalha na parte centro-sul, no norte houve menos confrontos. Porém, em Motobu, no monte Yae-dake, por exemplo, um combate começou em 10 de abril e durou uma semana.

O exército japonês, após as rápidas derrotas, se dispersou nas montanhas, junto aos civis, que vagavam e se escondiam na região. Há relatos de que muitos roubavam comida e roupas e expulsavam civis de seus esconderijos. Outros, achando que os civis eram espiões a mando dos EUA, os matavam. Na região, foram 16 casos de massacres por soldados japoneses e suicídios em massa, totalizando 57 mortos.

Um desses casos aconteceu em Tonokiya (atual Shirahama, no município de Ōgimi). Dez soldados japoneses mataram 35 civis e feriram 15, a maioria mulheres e crianças. De acordo com uma sobrevivente, sua família, vinda de Yomitan, e outros refugiados haviam recebido alimentos dos estadunidenses. À noite, soldados japoneses chegaram e disseram: “Nas montanhas nós não temos nada para comer enquanto vocês estão aqui comendo coisas boas?”. Um grupo levou os homens para a floresta, incluindo o pai da mulher que contou o relato. Outro grupo levou as mulheres e crianças para a praia, dizendo que iam contar algo interessante. Disseram: “Um, dois, três…” e então jogaram três granadas no grupo. A sobrevivente também contou que, quando seu irmão e sua mãe encontraram o corpo de seu pai, a cena era tão cruel que eles desmaiaram.

Esse caso aconteceu no dia 12 de maio, quando já estava sendo instalados os campos de concentração (campos de refugiados), para onde eram enviados todos os sobreviventes. Essa é outra característica da região e tema do qual falarei depois.

No total, a quantidade de vítimas da guerra na região foi de mais de 20 mil pessoas. Muitos morreram de desnutrição e malária.

Civis na cidade de Kin, dia 26/04/1945. Possivelmente estavam indo para algum campo de refugiados.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives

Cidade de Nago em ruínas.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives
Ataque com lança-chamas em entrada de uma caverna, na cidade de Kin.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives
Exército norte-americano encontra documentos no bunker do comando do exército japonês na península de Motobu.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives

A batalha em Ie-jima

Em contraste ao resto da região norte, menos militarizada, a pequena ilha de Ie-jima possuía 3 aeroportos e era conhecida como a “maior base aérea da Ásia”, construída por moradores de todo o norte de Okinawa. Dessa forma, tornou-se alvo principal dos EUA, que invadiram a ilha no dia 16 de abril. No dia 20, o exército japonês já havia sido dizimado.

Morreram cerca de 4.700 pessoas, sendo 1.500 civis – mais da metade dos moradores faleceu na Batalha. Os que sobreviveram foram levados para os campos de concentração das Ilhas Kerama e de Ourazaki, de onde só puderam retornar em 1947, pois os EUA visavam também ocupar a ilha com bases militares.

Assim, a pequena ilha de Ie-jima é considerada um “microcosmo” da Batalha de Okinawa, já que é possível ver muito claramente o padrão: militarização com bases japonesas no pré-guerra, alto envolvimento de civis na construção e na batalha e, por fim, a instalação de bases estadunidenses no pós-guerra.

Vista aérea de Ie-jima. No centro, as bases aéreas do exército japonês após bombardeio.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives
Civis esperando por inspeção médica em Ie-Jima, dia 24/04/1945.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives
Professora e crianças posam para foto, 25/04/1945.
Fonte: Okinawa Prefectural Archives

Concluindo…

A Batalha na região norte foi caracterizada por receber pessoas refugiadas do centro e do sul. Nas suas florestas e montanhas, muitos soldados japoneses desmobilizados ficaram vagando. Aqui também se vê o padrão do exército japonês de incentivar os suicídios em massa e atacar civis por considerá-los espiões ou para roubar comida, roupa e abrigo. Muitas mortes aconteceram por causa da fome e malária.

Como o avanço para o norte foi muito rápido, logo os EUA estavam construindo os campos de concentração (campos de refugiados) para receber pessoas de toda a ilha. Assim, em maio, quando a batalha no sul ainda estava longe de acabar, no norte eles já estavam vivendo uma espécie de “vida pós-guerra” nos campos, temas que comentarei nas próximas edições.

Referências:

沖縄県平和祈念資料館(2014年).『総合案内』.

沖縄県高教組教育資料センター『ガマ』委員会(2013年).『沖縄の戦績ブック「ガマ」』.

Fotos:

Okinawa Prefectural Archives. Disponível em: https://www2.archives.pref.okinawa.jp/

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