
Os próximos Jogos Olímpicos, em 2020, serão realizados em Tóquio, e os japoneses esperam ansiosamente sua segunda Olimpíada. A primeira foi realizada em 1964. Nessa época, Okinawa estava sob ocupação norte-americana, sendo administrada pela USCAR (United States Civil Administration of the Ryukyu Islands) desde o fim da guerra. Na prática, isso significava que Okinawa não era Japão. Na verdade, deixara de ser a “província de Okinawa” e voltara a ser chamada de “Ryukyu”. Era necessário obter autorização para viajar para o Japão e era proibido hastear a bandeira japonesa em locais públicos.
Contudo, muitos okinawanos queriam partilhar da cidadania japonesa e da emoção de receber os Jogos Olímpicos. E queriam receber a tocha olímpica na ilha. Em 1964, após negociações, finalmente foi decidido que Okinawa faria parte do trajeto.
No dia 21 de agosto de 1964 a tocha foi acesa em Olímpia, Grécia, berço dos Jogos, e no dia seguinte partiu de Atenas. Após passar por 11 países, deveria chegar em Okinawa no dia 6 de setembro, mas um tufão causou um atraso de um dia.
No dia 7, a tocha olímpica finalmente chegou em Naha. O diretor do Comitê Organizador, Shigeru Yosano, falou sobre a situação de Okinawa da seguinte forma: “Okinawa faz parte do território japonês e é o ponto em que a tocha olímpica chegou pela primeira vez ao Japão. E ao mesmo tempo, Okinawa não é exatamente o Japão, sendo também o último ponto do percurso da tocha em território estrangeiro.” Houve uma grande cerimônia de recepção à tocha, “e Okinawa se encheu de alegria como se já houvesse sido devolvida ao Japão”, como foi noticiado.
Cerca de 40 mil pessoas lotavam o Estádio de Atletismo de Ōnoyama quando entraram os atletas. O barulho dos aplausos e dos gritos de boas-vindas abafaram até a fanfarra, e a cerimônia começou.



Em voz alta, o público cantou o Kimigayo, hino nacional japonês, e a bandeira japonesa (Hi no Maru) foi hasteada. Na época, ambas as manifestações patrióticas eram controladas pela ocupação norte-americana. Logo depois da guerra eram expressamente proibidas, mas em 1952 foi permitido que a bandeira fosse utilizada somente dentro das residências e em situações sem cunho político. Em 1961, a permissão se estendeu a feriados e prédios públicos.
O revezamento da tocha olímpica não aconteceu no feriado, portanto era proibido – mas as bandeiras estavam lá. Okinawanos haviam começado um movimento para dar boas-vindas à tocha olímpica com a bandeira do Japão. Assim, nas ruas do trajeto e nos pontos de revezamento, e também em escolas e outros prédios, a Hi no Maru estava ali presente. Houve aqueles que se emocionaram ao ver os atletas okinawanos ostentando o símbolo das Olimpíadas e a bandeira do Japão em seus uniformes.

Depois da cerimônia, a tocha passou sua primeira noite em Okinawa, na sala do Chefe Executivo do Governo das Ilhas Ryukyu. No dia seguinte, 8 de setembro, a tocha saiu de Naha em direção ao sul, passando por Itoman e, dando a volta por Gushichan (Yaese), seguiu para Fusato-Shinzato (Nanjō), avançando pela costa leste e passando em: Yonabaru, Nishihara, Agena-Enobi-Ishikawa (Uruma); Kin, Ginoza e Kushi-Kayō (Nago). Em Kayō, houve uma festa de recepção.
No dia 9, para compensar o atraso na chegada da tocha em Okinawa, causado pelo tufão, o Comitê Olímpico decidiu dividir a chama olímpica em duas partes, enviando uma delas para Kagoshima. A parte que ficou em Okinawa seguiu pelo trajeto planejado, saindo de Kayo em direção a Shioya (Ōgimi). Chegando na costa oeste, seguiu rumo ao sul, passando por: Nago, Onna, Kadena, Koza (Okinawa-shi), Futenma (Ginowan) até chegar em Shuri-Yamagawa (Naha). De lá, os atletas completaram o percurso, atingindo a Kokusai Dōri e retornando a tocha ao Estádio de Ōnoyama.








No dia 11, foi realizado o último trecho – do Estádio de Ōnoyama até o Aeroporto de Naha. Assim, a tocha olímpica se despediu de Okinawa. Num trajeto de 247.1 km em volta da ilha principal de Okinawa, a chama passou pelas mãos de 3.473 condutores. E assim, apenas 19 anos depois da guerra, o povo de Okinawa teve motivo para se alegrar.
O que esses 5 dias significaram para Okinawa?
Naquela época, a situação de Okinawa era muito particular – a ilha havia sido destruída pela Batalha de Okinawa e ocupada pelos Estados Unidos. Descontentes com os abusos da ocupação (tomada de terras para expansão de bases militares, acidentes envolvendo aviões militares e soldados embriagados, por exemplo), muitos cidadãos desejavam que Okinawa voltasse a ser uma província japonesa. A reversão ao Japão ocorreria somente em 1972, mas naquela época, os ânimos se exaltavam em protestos contra as bases militares.
Numa reunião entre o Primeiro Ministro Ikeda e o Presidente Kennedy, em junho de 1961, foi discutida a situação de Okinawa. Um dos temas tratados foi a já citada permissão para o hasteamento da bandeira japonesa. Concluiu-se que o uso da Hi no Maru serviria somente para lembrar o vestígio da soberania japonesa em Okinawa, e não ameaçaria a hegemonia americana sobre as ilhas. Na verdade, a permissão serviria para acalmar os ânimos dos okinawanos, “estabilizando a situação em Ryukyu”, pois naquela época os movimentos pela reversão ao Japão ganhavam força. De fato, a Hi no Maru foi ostentada exageradamente durante a visita da tocha, ao mesmo tempo em que a população se comovia com o evento.
Nesse contexto, podemos nos questionar o porquê da tocha olímpica passar em Okinawa, sendo que estava sob ocupação americana. O evento, da mesma forma que a permissão para uso da bandeira, não teria como objetivo acalmar os ânimos da população descontente? Não seria uma política de pão e circo para tentar estabilizar a ilha que ineviltavelmente rumava em direção à revolta?

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