A construção da base militar americana em Henoko (cidade de Nago) tem gerado grande polêmica na sociedade okinawana, envolvendo também os governos japonês e norte-americano. Muitos cidadãos okinawanos se opõem à construção. Entre os motivos, está o fato de que Okinawa já abriga a maior parte das bases militares americanas em território japonês. Outro motivo é o meio ambiente – o projeto prevê o aterramento de parte da Baía de Oura (lê-se Oúra), que abriga várias espécies marinhas ameaçadas de extinção. Assim, nos protestos, em meio aos gritos de “No Base!”, eis que surge um personagem que deve ser protegido: o dugongo (“dugong”/ジュゴン em inglês e japonês). Afinal, o que é um dugongo?

Características
Como a baleia e o golfinho, o dugongo é um mamífero aquático. À primeira vista, o formato de seu corpo é semelhante a um peixe-boi. Ele mede de 2,5 a 3 metros e pesa entre 300 e 400 quilos. Ele vive cerca de 50 a 60 anos, atingindo a idade adulta aos 10 anos. Como o ser humano, a respiração é pulmonar, necessitando colocar o nariz para fora da água a cada 1 a 4 minutos. A presa do macho pode chegar a 20 centímetros, e é possível calcular a idade através dos dentes. Na fêmea, os dentes ficam para dentro e não é possível vê-los. Os ouvidos são um orifício acima dos olhos, e a audição é extremamente apurada. As barbatanas ficam na altura do peito e, embora não possamos ver, os ossos são semelhantes ao do ser humano, com 5 dedos. O dugongo é cinza-claro. Porém, o dugongo mais comumente visto em Okinawa é rosado. Não se sabe o motivo, mas acredita-se que a cor seja proveniente da queimadura de sol.

Normalmente o dugongo nada bem devagar, na velocidade de um humano com pés de pato. Porém, quando em perigo, o dugongo pode nadar de 20 a 30 km/h. O dugongo habita as águas mornas dos Oceanos Índico e Pacífico. Estima-se que existam cerca de 100 mil dugongos, sendo 82 mil na região da Austrália, 11 mil na Península Arábica e 7 mil no Sudeste Asiático (que inclui Okinawa). No Japão, o dugongo costumava ser avistado nas regiões de Amami (atual Kagoshima), Okinawa e ilhas Yaeyama. Porém, depois de 1960, com exceção do mar de Okinawa, o dugongo não foi mais visto. Em 1975, foi designado como “Monumento Natural” do Japão (天然記念物).

Atualmente, acredita-se que existam menos de 50 dugongos em Okinawa. Na região de Henoko, onde tem sido vistos recentemente, estima-se que existam 3 dugongos.
O dugongo é um animal tímido e pouco acostumado ao contato com humanos. Grande parte das tentativas de criá-los em cativeiro não deu certo. Em Okinawa, a primeira aconteceu em 1975, na época do Expo ’75. Dois dugongos foram trazidos da Indonésia para o aquário que atualmente é conhecido como “Okinawa Churaumi”. Os animais fizeram sucesso, principalmente entre as crianças, que diziam que eram parecidos com o Moomin (personagem infantil da Finlândia, que faz muito sucesso no Japão). Apesar de terem recebidos os cuidados necessários, após 20 dias um deles perdeu o apetite e acabou morrendo, e logo depois o outro morreu também.
Dugongo x Peixe-boi
Apesar de muito parecidos, o dugongo é diferente do peixe-boi. O peixe-boi é maior que o dugongo (mede entre 3 e 4 metros e pesa entre 400 e 600 kg). Não possui presa e sua cauda é arredondada. Vive no Oceano Atlântico e em rios (como o peixe-boi amazônico).
Alimentação
O mar de Okinawa possui muitos recifes de corais, que tem importante função no crescimento das ervas marinhas, que são o único alimento do dugongo. Elas crescem na parte mais rasa do mar, pois realizam fotossíntese, necessitando de luz para crescer. A raiz, frágil, só cresce se a areia for adequada. Os corais tem a função de controlar a corrente marítima que vem do alto mar para a parte mais rasa. Graças aos recifes de corais, geralmente a parte mais rasa do mar de Okinawa é mais calma, com poucas ondas. Se o mar for um pouco mais agitado, as raízes das ervas não criam estabilidade.
As ervas marinhas, que necessitam de condições especiais para crescerem, são o único alimento do dugongo. Num dia, o dugongo necessita consumir cerca de 1/10 de seu peso – um animal de 300 kg come então, 30 kg de ervas por dia.

Atualmente, restam poucos dugongos em Okinawa. Antes era visto desde as ilhas Amami até as ilhas Yaeyama, e hoje corre perigo de extinção. Caso a base seja construída, o aterramento e a poluição podem ter alto impacto na alimentação do dugongo, pois uma mudança mínima pode ser prejudicial para o crescimento das ervas. Além disso, por ser um animal pouco adaptável ao contato humano, com o barulho e o movimento dos navios e aviões em torno da base, o dugongo pode desaparecer para sempre da região de Henoko.

Video sobre dugongo e a construção da base em Henoko (de onde foram tiradas a fotos utilizadas nesse post):
Fonte:
「ジュゴンはなぜ死ななければならなかったのか」真鍋和子
https://www.youtube.com/watch?v=VvkgQFVk7qs

Deixe um comentário