Recentemente foi decidida a data do 6º Sekai Uchinanchu Taikai, o Festival Mundial Uchinanchu: 27 a 30 de outubro de 2016. Desde sua primeira edição, em 1990, o evento tem atraído uchinanchus do mundo inteiro que voltam a sua terra natal e outros que viajam para conhecer a terra natal de seus antepassados. Atualmente, são cerca de 360,000 uchinanchus espalhados por diversos países.

Se existem tantos uchinanchus espalhados pelo mundo, é porque décadas atrás, muitos okinawanos tiveram motivos para deixar sua terra e tentar a vida em território desconhecido. Depois de Hiroshima, Okinawa é a segunda província que mais enviou imigrantes (89.424 pessoas). Porém, se considerarmos a população, proporcionalmente Okinawa é a primeira da lista, e por isso é chamada de “província da imigração”.
O principal motivo para imigrar foi a campanha de reorganização territorial promovida pelo governo Meiji após a extinção do reino de Ryukyu, que visava a modernização de Okinawa. Tal reforma acabou com o sistema de terras comunitárias, sendo que muitas pessoas acabaram vendendo terras ou as usaram como garantia de suas dívidas, adquirindo passagens de navio para o exterior.
Outro motivo para a imigração foi a má conjuntura econômica e a pobreza. Dizia-se que viviam no “inferno de sotetsu”, pois, devido à falta de alimentos as pessoas comiam sotetsu, espécie de cicadácea, similar a uma palmeira de baixo porte.
Nesse contexto, surge um homem chamado Kyuzo Toyama, que ficou conhecido como o “pai da imigração okinawana”. Toyama nasceu em Kin (Kin-cho), em 1868, tornando-se mais tarde professor e diretor de escola na mesma cidade.
A imigração japonesa já havia começado em 1885 e Toyama descobriu os programas de imigração para o Havaí quando estudou em Tokyo, entre 1896 e 98. Após obter a permissão do Governador Narahara, ele começou a recrutar okinawanos para viajar ao Havaí. E no dia 3 de janeiro de 1900, Toyama liderou 26 homens (com idade entre 21 e 35 anos), que chegaram ao seu destino como os primeiros trabalhadores contratados vindos de Okinawa.
Porém, as condições encontradas nas plantações de cana-de-açúcar eram diferentes das expectativas. Além do trabalho pesado, os imigrantes se depararam com violentos supervisores e o preconceito por parte dos japoneses (conhecidos como “naichi”) que já moravam no local. Muitos culparam Toyama pelas dificuldades e juraram matá-lo.
Entretanto, quando as pessoas começaram a retornar a Okinawa com dinheiro suficiente para comprar terra ou construir uma casa, muitos outros quiseram imigrar também. Então, Toyama liderou um segundo grupo de 40 pessoas para o Havaí em 1903. Em 1907, 8.500 okinawanos viviam no Havaí, que correspondia a cerca de 20% da população japonesa na ilha. Depois do Havaí, o movimento imigratório alcançou outros lugares: Estados Unidos, Canadá, Peru, Brasil, Argentina, Filipinas etc.
Se no início os imigrantes encontraram condições muito adversas, hoje é motivo de orgulho o fato de Okinawa ter descendentes em diversas partes do globo, que preservam tradições ensinadas pelos seus antepassados. Atualmente, na cidade de Kin encontramos uma homenagem a Kyuzo Toyama, que começou essa história.
A estátua de Toyama se localiza bem perto da prefeitura de Kin. A primeira estátua, de bronze, foi construída em 1931, junto com um museu. Porém, na época da 2a Guerra Mundial, com o recolhimento de metais para ser usados na batalha, a estátua foi removida. Em 1961 foi reconstruída no mesmo local.



Fonte:
“Japanese American History: An A-to-Z Reference from 1868 to the Present”, disponível em: https://books.google.com.br/books?id=QZg6Ft_jvJ0C&pg=PA338&lpg=PA338&dq=kyuzo+toyama+a-z&source=bl&ots=XlT14KQVq6&sig=VolJy4Nh2hwzTv-7QMeqoUWGl04&hl=pt-PT&sa=X&ved=0CEgQ6AEwBWoVChMIjZbt-MSUxgIVwZ-ACh0vrwD9#v=onepage&q=kyuzo%20toyama%20a-z&f=false
http://www.oki-ngo.org/lets-study/portuguese/uchinanchu/
http://www.okinawatimes.co.jp/article.php?id=119651
http://www.ytabi.jp/spot/detail.jsp?id__=149
“Lilian Vai a Okinawa”, de Satsuki Kinjo, Karina Satomi Matsumoto e Atsuko Koja

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